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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sou aquilo que não se vê

Eu não sou o que você vê. Eu vou muito mais além das linhas que delimitam o meu corpo. Eu não posso me descrever. Nem posso me revelar. Talvez você não entenda. Mas é assim que tem que ser. É assim que eu quero que seja. Me descrever não bastaria. Seria inútil contar minunciosamente cada detalhe do que eu sou. Desnecessário. Você tira sempre suas próprias conclusões. Então deixo que pensem o que sou e o que não sou. Que me imaginem na multiplicidade de um ser humano. Que fantasiem. Porque eu também me fantasio. Às vezes. Porque na verdade eu sei o que sou. Apenas finjo não saber e faço que esqueço, só para sentir o sabor de ser o mistério. Mistério. Amo essa palavra carregada do que não se vê, do que não se sabe, do que surpreende. Mistério. Amo me desconhecer só para depois me reencontrar. Me desbravar. E unir todas as partes de mim.
Eu não sou o que você vê. Nem sou o que me revelo. Revelo apenas a parte que te cabe, e que não cabe em mim. Apenas o que sinto premência de mostrar. Um pouco do leve e do angustiante, do bom e do normal que existe em mim.  Dou de mim o que acredito que tu podes receber, sem dor e sem sofrer.
Sou aquilo que só quem sente pode perceber. O que sou só quem vê de muito, muito perto pode compreender. Se não for assim, desista. Eu não vou me revelar. Pode tirar suas conclusões.

3 comentários:

  1. Se revelarmos tudo de nós, a magia se perde por ai...Bom é irmos revelando aos poucos, e deixando guardado o melhor para quem merecer de fato...

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  2. Adorei o texto!
    É bom deixarmos que pensem o que que quiserem de nós quando sabemos muito bem quem somos. É bom viver num mistério e deixar descobrirem apenas o que queremos que descubram a nosso respeito.

    Pelo jeito da sua escrita fica impossível não perceber uma certa paixão por Clarice Lispector...

    Excelente post!
    Beijos!
    http://lauravazio.blogspot.com/

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